Valor Econômico » Crise externa movimenta aplicações

Os impactos causados no mercado financeiro do país pela crise europeia, pelo desaquecimento chinês e pelas incertezas econômicas e políticas americanas podem ser medidos pelo fato de que as duas extremidades do ranking dos investimentos no acumulado de janeiro a maio deste ano são ocupadas por ativos sensíveis aos acontecimentos globais.

O líder das melhores aplicações é o dólar, com alta de 7,29% até maio. A pior é o Índice Bovespa, com perda de 3,99%. Ambos os ativos refletem o movimento de entrada e saída de capitais estrangeiros do Brasil e as expectativas em relação aos desdobramentos da crise externa.

Os consultores financeiros divergem sobre a importância dos rankings na hora de investir. Uns dizem que, por serem espelho estático do passado, refletem o que já passou e não são bom guia para o futuro. “Quem investiu com base no ranking do segundo semestre de 2011 perdeu dinheiro agora”, diz o educador financeiro Álvaro Modernell.

A planejadora financeira Angela Nunes, sócia da Moneyplan, discorda. As listas das melhores e das piores aplicações são valiosas por informar qual a conjuntura econômica em que se está vivendo. Decisões e estratégias devem ser tomadas em função das tendências esboçadas pelo quadro econômico, que estão refletidas no ranking.

O economista César Locatelli, sócio da F2 – Formação Financeira, diz que investimentos em moeda estrangeira devem seguir a mesma estratégia adotada para as ações: a montagem vagarosa de uma carteira de longo prazo. “Diversificar significa também incluir ativos em outras moedas na carteira. Mas não se deve comprar dólar ou ouro de uma só vez”, diz.

O investidor não profissional não tem de fazer apostas. Deve construir, diz Locatelli, um colchão de liquidez em poupança, fundos DI e Tesouro Direto para as emergências e depois escolher objetivos de longo prazo e fazer alocações que o deixem confortável. “A queda recente da bolsa não importa muito se o objetivo é de longo prazo e se o investidor monta sua carteira bem devagar. Se acreditamos que a economia mundial vai voltar a crescer um dia, podemos ir construindo uma carteira para ganhar com esse movimento lá na frente”, recomenda.

Todos os ativos de renda fixa do ranking do ano pagaram ganhos acima da inflação. A rentabilidade será menor daqui em diante pois o BC sinaliza que persistirá reduzindo a Selic. Angela Nunes, da Moneyplan, enfatiza a premência de o investidor promover uma ampla revisão do seu orçamento mensal. Se ele, após a queda vertiginosa do juro real, quiser manter a mesma rentabilidade de antes terá de sacrificar a liquidez e correr mais riscos.